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Tráfego de reflexões...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009


Recentemente, apercebi-me de que é no trânsito onde faço grandes reflexões sobre a vida. (assustador não é?)

De manhã, enquanto o sol nasce na auto-estrada, gosto da companhia das músicas comerciais da Comercial e da boa disposição dos locutores. Sigo em piloto automático e a única coisa em que penso é que estaria muito melhor aninhada no choco. 

Mas à tarde, sabe-se lá porquê, sabe-me bem regressar a casa em silêncio e finalmente poder ouvir os meus pensamentos, que em turbilhão e aos empurrões se soltam depois de um dia encerrados por detrás do papel de uma pessoa normal. É nesta altura de crepúsculo, em que o sol já não está mas ainda não foi que consigo realmente ouvir-me.

Recentemente preocupa-me um facto: serei eu uma eterna insatisfeita? 

Defino um objectivo, luto por alcançá-lo, alcanço-o e teoricamente deveria ficar saciada, certo? Mas então, porque é que continuo a sentir um vazio esquisito cá dentro, como se tivesse 1000 experiências por viver, um mundo inteiro para aprender e um buraco à espera de uma peça do puzzle para este fazer sentido?

Vamos por partes: sou feliz, adoro o meu trabalho, tenho um lar em construção, um amor que me completa, uma família maravilhosa e um corpo são. Sou feliz!

No entanto, continuo com sede... de conhecimento, de vida, de magia... Quero mais, preciso de mais...mas o que é esse MAIS? Como procurar algo que não sabemos o que é? Por onde começo? Sinto que preciso de ir mais fundo, mas fundo onde? E do quê? Porquê?

Um dia, nos meus anos, em 2006, a minha mãe ofereceu-me uma leitura do mapa astral. Meio céptica, meio interessada, lá ouvi o que a senhora tinha a dizer, e entre muitas coisas (que se vieram a confirmar mais tarde, com uma exactidão pró sinistra) ela mencionou que eu tinha uma sede tal de profundidade e conhecimento que existia em mim uma certa "atracção para e pelo o abismo".  Será por isso esta insaciedade?

Compreendo o Nandinho Pessoa, na pele do Álvaro de Campos,quando ele diz que precisa de 

"Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo(...)"

Quando regresso a casa, enquanto conduzo por entre os carros e as reflexões, preocupa-me ser uma pessoa tão estranha...

1 comentários:

Graça Lourenço disse...

Sim senhor!! Muitíssimo bom este teu post. Vi-me no mesmo caminho, no mesmo turbilhão e na mesma insatisfação. Ainda bem que existem seres assim. É sinal que a nossa vida se percorre por caminhos insondáveis e é bom encontrar neles pessoas tão interessantes.