Estes últimos tempos aprendi que nem tudo deve ser levado ao extremo... Falo por exemplo da Verdade... Às vezes uma mentirinha "branca" como lhe chamo não prejudica ninguém e até dá muito jeito... Passo a exemplificar:
Quando trabalhei em São Miguel tive um utente muito especial...tinha quase 100 anos, parecia o "Master Yoda" (versão só com um dente e não era verde) e... era Padre!
Ora o Sr. Padre precisava de fazer Fisioterapia mas já lhe faltava uma continha no terço, ou seja, o Tico e o Teco já não estavam no seu melhor. Conclusão: quando chegava a hora de fazer ginástica estava sempre muito entretido na sua realidade paralela.
Um belo dia, entrei no seu quartinho do hospital particular, para o levar até ao ginásio, e encontrei-o sentado na sua poltrona, muito entretido a conversar... SOZINHO!
Lembrei-lhe mais uma vez quem eu era (todas as sessões tinha de me apresentar) e expliquei-lhe que o vinha buscar para trabalharmos juntos.
Pois não é o meu espanto quando ele discretamente me sussura apreensivo:
- Mas, oh filha, tu não vês que estou em confissões?
Eu intrigada olhei em volta, não vi ninguém e fiquei meio baralhada, em silêncio, enquanto o ouvia a prosseguir com a encomenda de Avé Marias e Pais Nossos à bendita alminha que se estaria a confessar.
Tinha três hipóteses: ou ia embora, ou o contradizia correndo o risco de o ofender, ou entrava na "viagem"... Ora como boa pecadora que sou, o que foi que eu fiz? Menti ao Padre! Fui até à porta do quarto, espreitei para o corredor, voltei para dentro e disse:
- Sr. Padre, esta senhora (fosse lá quem fosse que ele estivesse a confessar) é a última... Não está aqui mais ninguém pra confissões, os restantes estão a rezar o terço!
E Ele aliviado, lá terminou os seus afazeres, levantou-se da cadeirinha, agarrou na minha mão e foi!
Moral da história:
Às vezes temos de ser flexíveis às realidades das outras pessoas, adaptando-nos a elas para podermos entrar no seu mundo e descobrir melhor quem são.