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Realidade paralela...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Estes últimos tempos aprendi que nem tudo deve ser levado ao extremo... Falo por exemplo da Verdade... Às vezes uma mentirinha "branca" como lhe chamo não prejudica ninguém e até dá muito jeito... Passo a exemplificar:

Quando trabalhei em São Miguel tive um utente muito especial...tinha quase 100 anos, parecia o "Master Yoda" (versão só com um dente e não era verde) e... era Padre!

Ora o Sr. Padre precisava de fazer Fisioterapia mas já lhe faltava uma continha no terço, ou seja, o Tico e o Teco já não estavam no seu melhor. Conclusão: quando chegava a hora de fazer ginástica estava sempre muito entretido na sua realidade paralela.

Um belo dia, entrei no seu quartinho do hospital particular, para o levar até ao ginásio, e encontrei-o sentado na sua poltrona, muito entretido a conversar... SOZINHO!

Lembrei-lhe mais uma vez quem eu era (todas as sessões tinha de me apresentar) e expliquei-lhe que o vinha buscar para trabalharmos juntos.
Pois não é o meu espanto quando ele discretamente me sussura apreensivo:
- Mas, oh filha, tu não vês que estou em confissões?

Eu intrigada olhei em volta, não vi ninguém e fiquei meio baralhada, em silêncio, enquanto o ouvia a prosseguir com a encomenda de Avé Marias e Pais Nossos à bendita alminha que se estaria a confessar.

Tinha três hipóteses: ou ia embora, ou o contradizia correndo o risco de o ofender, ou entrava na "viagem"... Ora como boa pecadora que sou, o que foi que eu fiz? Menti ao Padre! Fui até à porta do quarto, espreitei para o corredor, voltei para dentro e disse:

- Sr. Padre, esta senhora (fosse lá quem fosse que ele estivesse a confessar) é a última... Não está aqui mais ninguém pra confissões, os restantes estão a rezar o terço!

E Ele aliviado, lá terminou os seus afazeres, levantou-se da cadeirinha, agarrou na minha mão e foi!

Moral da história:
Às vezes temos de ser flexíveis às realidades das outras pessoas, adaptando-nos a elas para podermos entrar no seu mundo e descobrir melhor quem são.

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